Liderar a distância no cenário pandêmico: do caos ao amadurecimento

Carreira

Liderar a distância no cenário pandêmico: do caos ao amadurecimento

Paulo Pereira
Escrito por Paulo Pereira em 03/05/2021
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No dia 15 de março de 2020, eu deixava o atual trabalho na época. No dia seguinte, iniciei na nova empresa e, dois dias depois, no dia 18 de março, São Paulo, onde eu trabalhava, já entrava em quarentena. Eu, assim como qualquer outro mero mortal, seguia para o tão sacrificante isolamento social e passaria a atuar em regime de home office. Tinha que liderar a distância.

Tendo a oportunidade de trabalhar presencialmente por apenas 2 dias, 16 e 17 de março, ainda deu tempo de conhecer o escritório sede da minha então “nova casa”, dizer “olá” aos meus novos chefes, conhecer alguns pares e parte da minha equipe.

Depois disso, nunca mais nos cruzamos pessoalmente! Cada um deu andamento aos seus arcos nessa – infeliz – quase história apocalíptica chamada de 2020.

Aqui, eu pretendo falar um pouco sobre a minha experiência em liderar a distância e sobre o que eu aprendi com isso. Leia até o final.

Primeiras impressões sobre a nova realidade de liderar a distância

Após os episódios que relatei anteriormente, os dias foram passando. Os primeiros, muito mais lentos do que os seguintes, mas passando (graças a Deus)… sempre regados de medo, receio e angústia, não só na vida pessoal, como em igual escala no âmbito profissional.

O trabalhar de casa me assustou! Não porque eu teria que performar longe do escritório; a questão era outra: como administrar a performance de outros?

Embora seja um “militante” do trabalho remoto, entrar de cara num projeto novo, complexo e cheio de expectativas, sem estar preparado – assim como o resto do mundo – para o novo cenário e para gerir a distância sem conhecer ninguém realmente me tirou do eixo.

A sensação de viver um verdadeiro caos

Meus sentimentos tornaram-se um caos, uma mistura de coisas e ideias em  total desarmonia. Uma confusão, real oficial! Era medo de não dar conta, de não conseguir engajar o time, de não saber lidar com as relações e emoções, que estariam fragilizadas pela situação do planeta.

Mas o tempo continuou seguindo e o “anormal” usurpando o espaço do “normal”. Estávamos nos habituando com aquilo que foi imposto de forma abrupta – eu estava, ao menos.

Algumas coisas mudaram. Eu já conhecia muitos dos processos; já havia conversado com todos do meu time; já tinha feito alguns “colegas de trabalho cibernéticos”. Inclusive, já não contava mais com apenas 12 pessoas no meu time, estávamos em 26.

O tempo pode ser um excelente aliado na adaptação

Com o aumento do grupo também veio a experiência, as tentativas e acertos, a formulação de um jeito próprio… forcei mais e aprendi muito. As coisas começaram a fluir melhor.

Passei a me sentir mais confortável em liderar a distância, a construir relações e criar maneiras de conduzir os trabalhos de forma mais leve, respeitando o espaço e o momento estressante que cada um vem vivendo.

E sabe aquele caos? Foi se organizando… muito porque aceitei que sou um ser humano como qualquer outra pessoa e que, se eu falhar, tudo bem, recomeço. Afinal, estamos lidando com o novo! Com coisas e situações que nunca tivemos contato.

Ninguém estava melhor; ninguém ainda está 100% preparado para lidar com tudo isso. Acertar e errar faz parte!

Transformar o caos num processo de muito aprendizado

Muito do que eu descobri nesse processo de liderar a distância tem me tornando um profissional melhor. Talvez em outras circunstâncias, a minha curva de aprendizagem não teria sido tão acentuada.

O cerne de toda a questão, a meu ver, é o respeito ao indivíduo que está do outro lado da tela, conhecendo-o ou não pessoalmente. É uma pessoa, um ser humano igual a quem lidera, e, como tal, tem seus sentimentos, suas fragilidades e suas convicções.

Mas como liderar a distância em um cenário tão complexo?

Saber ajudar o profissional a acessar e controlar cada um desses pontos é um dos papéis mais importantes para quem lidera em um ambiente como o qual estamos inseridos hoje. É preciso saber ouvir, esperar e se colocar no lugar do outro. Hoje mais do que nunca!

As ferramentas tecnológicas que temos à nossa disposição são essenciais nesse processo. Manter contato é crucial. Perguntar, buscar, conversar.

Estar ao lado, apoiando, não só com as atividades técnicas do dia a dia, mas com aquilo que, embora não seja parte do job description, está indiretamente relacionado à performance.

É preciso se importar para que dê certo.


Paulo Pereira é contador por formação, consultor trabalhista e previdenciário, e especialista em folha de pagamento. Possui 10 anos de experiência nos ramos de auditoria, consultoria e outsourcing, adquirida nas principais empresas do segmento no cenário brasileiro e internacional.

Atua em diversos projetos na posição de especialista nas matérias inerentes às relações laborais, transitando pelas áreas de gerenciamento de risco, processos, auditoria interna, compliance, terceirização de serviços, suporte à emissão de pareceres contábeis e Due Diligence.

Atualmente ocupa a posição de Gerente de Outsourcing de Folha de Pagamento em uma empresa Big Four e desenvolve o projeto Gentee.com.br, criado para se tornar referência em conteúdo de qualidade sobre pessoas e trabalho.


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2 Replies to “Liderar a distância no cenário pandêmico: do caos ao amadurecimento”

Douglas Rodrigues

Percebo muita pressão externa e interna no âmbito corporativo do que é esperado do profissional para os efeitos de liderança, mas, sem o reducionismo, entendo que o reconhecimento pelas pessoas como líder estimula a busca por mais senso de responsabilidade e cuidado, e estar referenciado por alguém é adentrar na singularidade de cada envolvido como amigo quando permitido, implica em proteção, direcionamento, companheirismo e riscos. A natureza sempre nos dá bons exemplos disto.

Essa experiência de liderar desgasta muito, mas engrandece, permite amadurecimento, é certo que maturidade advém das experiências que se vive e não dos anos que se passam. Exige sensibilidade e compreensão ao outro e quebra de paradigmas de julgamento e culpa. Cita-se:
“É raro o ser humano que consegue se concentrar em nossas necessidades quando as expressamos por meio de imagens de quanto ele está errado. É claro que podemos ter sucesso em utilizar tais julgamentos para intimidar as pessoas, de modo que atendam a nossas necessidades. Se elas se sentirem amedrontadas, culpadas ou envergonhadas a ponto de mudar suas atitudes, podemos vir a acreditar que é possível “ganhar” dizendo às pessoas o que há de errado com elas.” (Comunicação não-violenta, Rosenberg, Marshall B.)

Compreendo que no mundo corporativo há equívoco do alvo quando se fala em liderança, o primeiro é manter a mentalidade que faz gestão de pessoas, não é saudável gerir pessoas, apenas gerir com pessoas, que é a mentalidade da diversidade, equidade e respeito por cada indivíduo. O segundo é associar posição hierárquica ao comportamento, liderar é reconhecimento pelos exemplos e postura servidora e não imposição de espaço no organograma. Liderar não é administrar pessoas, é direcionar a equipe no caminho e nos trabalhos que condizem ao que é esperado de todos, onde todos aprendem, onde todos sacrificam-se, onde todos conquistam.

Paulo Pereira

Muito obrigado pela contribuição. 🙂