A armadilha do “gestor herói”: por que líderes precisam sair do modo bombeiro?

Recursos Humanos

A armadilha do “gestor herói”: por que líderes precisam sair do modo bombeiro?

Paulo Pereira
Escrito por Paulo Pereira em 07/06/2025
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Em tempos de escassez de tempo e excesso de problemas, o gestor que resolve tudo rápido, sozinho e na urgência, aquele que chamamos de “gestor herói”, é frequentemente querido.

Ele apaga incêndios, toma para si o que o time não consegue entregar e se coloca como ponto central de decisão e execução. Parece nobre. Parece eficaz.

Mas às vezes, essa é justamente a raiz do problema.

O mito do gestor herói e a dependência operacional

O perfil do “gestor resolvedor de tudo” pode parecer, à primeira vista, um alívio para as tensões do dia a dia. Alguém que não hesita em agir, que conhece todos os detalhes da operação e que, por zelo ou senso de responsabilidade, centraliza as entregas.

Mas à medida que essa dinâmica se perpetua, surgem efeitos colaterais silenciosos:

  • A equipe aprende que “pedir ajuda ao gestor” é mais fácil do que buscar soluções;
  • A liderança se torna um gargalo, com acúmulo de tarefas técnicas e decisões táticas;
  • O desenvolvimento dos liderados é comprometido por falta de espaço, autonomia e accountability.

Essa espécie de protagonismo excessivo pode se transformar em dependência estrutural. E quanto mais o gestor faz, mais o time espera que ele faça. Um círculo vicioso que, com o tempo, mina a eficiência coletiva.

Liderar pela urgência ou pela consistência?

Existem momentos em que a urgência se impõe: falhas críticas, crises externas, picos inesperados de demanda. Aí, sim, é papel do gestor assumir a frente, direcionar com velocidade e apoiar o time.

O problema é quando esse comportamento vira padrão. Quando a liderança se organiza constantemente em torno do “o que deu errado hoje?” ao invés de “o que podemos melhorar para o mês que vem?”.

A liderança estruturante exige outra mentalidade:

  • Planejamento consistente e revisado com regularidade;
  • Cultura de feedback que estimule protagonismo nos liderados;
  • Alinhamento claro de expectativas, metas e responsabilidades;
  • Desenvolvimento do time para que tome decisões, ainda que pequenas, com segurança e autonomia.

Em vez de foco na urgência, foco na previsibilidade.

Em vez de controle absoluto, confiança inteligente. Em vez de agir sozinho, desenvolver outros para agir.

Sair do modo bombeiro: uma mudança de postura e cultura

Transitar de um modelo reativo para um modelo estruturante não é fácil. Para começar, é preciso admitir que a imagem do “gestor indispensável” pode ser uma ilusão de controle.

A primeira mudança é interna:

  • Refletir sobre os motivos que te fazem querer resolver tudo (medo do erro? perfeccionismo? necessidade de aprovação?);
  • Reconhecer que não delegar é também um tipo de negligência com o time;
  • Reconfigurar a ideia de liderança como “quem sabe tudo” para “quem viabiliza tudo”.

Na sequência, vêm os movimentos práticos:

  • Redesenho de processos com foco em clareza de papéis e fluidez de informações;
  • Desenvolvimento intencional de lideranças intermediárias, com coaching, shadowing e empowerment real;
  • Ajustes nos ritos de gestão: menos reuniões para apagar fogo, mais espaços para acompanhamento e antecipação de riscos.

E por fim, mas não menos importante, o apoio da área de RH como parceiro de cultura e liderança, reforçando comportamentos estruturantes e desincentivando o heroísmo individual como métrica de sucesso.

O legado que você quer deixar

Liderar bem não é resolver tudo como um gestor herói faz.

Mas, construir um ambiente onde as coisas se resolvem com menos dependência de você. Onde o time cresce, se posiciona, erra e aprende. Onde a cultura não gira em torno da sua presença constante, mas sim da sua influência persistente.

Sair do modo bombeiro é difícil, especialmente quando ele nos trouxe reconhecimento, promoções e gratidão. Mas permanecer nele pode ser o que te impede de dar o próximo passo como líder.

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Paulo Pereira é Gerente de Operações de RH e tem mais de 13 anos de experiência em práticas de administração de pessoas e folha de pagamento, com expertise em relações trabalhistas, gerenciamento de riscos, processos, auditoria interna, compliance, terceirização de serviços, suporte à emissão de pareceres contábeis e due diligence adquiridos em projetos realizados em grandes empresas líderes de mercado. Também tem sólidas experiências nas áreas de Experiência do Colaborador, Remunerações e Benefícios, Recrutamento e Seleção, e Treinamento e Desenvolvimento.

Além da atividade remunerada, desenvolve o projeto Gentee (www.gentee.com.br), um blog de conteúdo de alta qualidade para profissionais de Departamento de Pessoal e Recursos Humanos.

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